📝 Resenha: E Não Sobrou Nenhum - Agatha Christie




Olar, Bookstans de plantão, tudo bem com vocês? A resenha de hoje é de uma obra que eu li no finalzinho de julho e início de agosto. Eu a ganhei de presente de uma amiga e ex professora de história, que quis me presentear com algum livro que eu pretendia ler (muito obrigada, Aline, você é maravilhosa). E... bom… quando retomei o hábito de leitura estive ansiosa por ler algo da Dama do Crime, pois nunca tinha lido nada da Agatha Christie e meio que achava inadmissível esse fato. Pois bem, como vocês viram aí, esta resenha será sobre o livro mais icônico dessa autora, E Não Sobrou Nenhum. Considerado o melhor e mais famoso livro de suspense de todos os tempos e uma verdadeira obra prima dos romances policiais. Foi lançado em 1939, revolucionou este gênero literário e, ainda hoje, nos mostra que a alcunha de Dama/Rainha do Crime não foi atribuída a Christie à toa. 

A trama se desenrola numa ilha deserta e isolada muito famosa, chamada ilha do soldado. Para ela, são convidadas dez pessoas, sob pretextos diferentes e aparentemente sem nada em comum. Entretanto, ao chegarem ao local, esses indivíduos são confrontados com acusações de crimes supostamente cometidos por eles. À partir disso, mortes começam a ocorrer e uma atmosfera de medo e suspense se instala entre os convidados, aprofundada ainda mais pelo fato de todos serem mutuamente suspeitos. Além disso, Agatha utiliza uma cantiga (ou poema) infantil, sob a qual as mortes giram em torno, como pano de fundo de seu romance, deixando-o ainda mais instigante. O poema, presente em todos os quartos da casa, dá à obra seu título e fala de dez soldadinhos que vão desaparecendo um a um. Confiram:

Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move;
Um deles se engasgou, e então sobraram nove.

Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;
Um deles dormiu demais, e então sobraram oito.

Oito soldadinhos vão passear e comprar chiclete;
Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.
Sete soldadinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.

Seis soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco;
A abelha pica um, e então sobraram cinco.

Cinco soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato;
Um ficou em apuros, e então sobraram quatro.
Quatro soldadinhos vão ao mar; um não teve vez,
Foi engolido pelo arrenque defumado, e então sobraram três.
Três soldadinhos passeando no zoo, vendo leões e bois,
O urso abraçou um, e então sobraram dois.
Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então sobrou só um.
Um soldadinho fica sozinho, só resta um;
Ele se enforcou,
E não sobrou nenhum.
No que diz respeito ao livro em si e à estrutura, a versão que eu tenho é a 4ª edição (de 2014 e reimpressa em 2020) da editora Globo. A obra divide-se em dezesseis capítulos e um epílogo, contando com 400 páginas, mas muitas delas são transições de capítulos e estão em branco, e outras contam com pouquíssimo texto. Em cada capítulo é como se tivessem subcapítulos, cada um destinado a alguns dos personagens, mostrando o que eles estão pensando e sentindo sobre toda a situação. O primeiro capítulo faz uma apresentação dos mesmos e os demais vão dando continuidade ao enredo à partir da chegada de todos na ilha, sempre dando um foco aqui e ali em alguém. Quanto à gramatura, trata-se de papel polen soft 70g/m², já comentei antes que é uma gramatura que me agrada bastante, as folhas são grossas e muito boas de ler. Por outro lado, tenho uma ressalva quanto à diagramação, a margem direita tem um espaçamento muito grande e a esquerda, muito pequeno. Resultando numa má distribuição do texto, sendo necessário abrir bastante o livro para conseguir fazer a leitura, mas nada que vá danificá-lo. Ademais, gostei muito da arte impressa nas capas, o livro é bem bonito e tem boa qualidade.
Não fica muito claro em que ano a história se passa. Na verdade, fiquei um pouco confusa quanto a isso, porque algumas datas não batiam. Todavia, pelo que pude constatar, creio que é por volta de 1939, coincidindo com o ano de lançamento da obra. Falando um pouco mais do conteúdo, o livro tem início, como falei anteriormente, com a apresentação dos personagens. Descobrimos quem são eles, o que fazem da vida, como e sob quais pretextos foram convidados para a ilha. Todos são levados à ela como se tivessem sido convidados por um misterioso Mr. Owen, que ninguém sabe de quem se trata. São pessoas completamente diferentes umas das outras, e aparentemente não têm nada em comum entre elas, formando assim um grupo bem estranho e distinto, algo ressaltado pelo barqueiro que os leva para a ilha. 
E Não Sobrou Nenhum - Pág. 43.

Ao chegarem ao seu destino, após se acomodarem e estarem socializando, uma voz desconhecida começa a falar com eles, os acusando de crimes que aparentemente cometeram, mas que estão fora do alcance da lei. Após isso, o mistério e a tensão correm soltos e, nessa atmosfera, uma série de mortes enigmáticas começam a ocorrer. Para piorar? uma tempestade se inicia e eles ficam isolados na ilha sem nenhuma comunicação com o restante do mundo. Sozinhos, assustados, confusos e desesperados, a morte paira no ar e eles lutam para não serem os próximos a confrontá-la. 
Agora, vamos para as minhas impressões sobre a obra. Confesso que demorei algumas páginas para engatar na leitura, mas bem… li o livro em dois dias, então vocês podem imaginar que a Agatha acabou fisgando minha atenção facilmente kkk. De cara, eu já gostei da premissa do livro, achei poético o uso da canção infantil como pano de fundo das mortes, aumentando a atmosfera de mistério e suspense propostas. Toda hora eu ficava relendo o poema para tentar adivinhar quem iria morrer e como kkkk. A trama é muito bem construída e você acaba se sentindo um dos dez soldadinhos da Agatha, porque fica tão perdido, confuso e desconfiado como um deles, pelo menos foi assim que me senti. Ficava tentando adivinhar quem era o assassino, e ao mesmo tempo que desconfiava de todos, não desconfiava de ninguém. Tentava buscar pistas nos pensamentos e sentimentos dos personagens e ficava ainda mais confusa. E quando a leitura chegou ao fim eu só conseguia me perguntar porque nunca tinha lido Agatha Christie antes. 
A forma como Christie magistralmente constrói esse romance é incrível, e ela mesma o considerou como o mais difícil de escrever, e não é por menos. E Não Sobrou Nenhum foi uma obra inovadora para o gênero policial, porque nele não temos um detetive solucionando mistérios e prendendo criminosos. Aqui, todos são, na mesma medida, detetives e criminosos, todos têm que solucionar o mistério se quiserem sobreviver. E é precisamente esse fato que os coloca sob uma pressão psicológica extrema, os levando aos confins do desespero e desequilíbrio mental. A Rainha do Crime nos insere na trama e nos prende nela como uma aranha ao capturar sua presa, sem escapatória. Positivamente, nos deixa impotentes, imersos, desesperados pelo final e lutando para decifrar sua genialidade. Pistas muito sutis são deixadas ao longo da narrativa e são poucas as coisas que você conseguirá deduzir. No fim, ela nos vence e ainda assim ficamos maravilhados e satisfeitos. Parafraseando uma amiga minha, eu adoro quando um livro me faz de trouxa, e esse certamente me fez. 
Portanto, como ficou claro, adorei a obra e a forma como ela é narrada, cheia de ambiguidades que nos fazem mergulhar ainda mais nela e nos deixa mais confusos a cada capítulo, ansiando por decifrar quem é o tal assassino. O suspense é mantido até o final através de uma narrativa fluida e envolvente. Com um plot twist que nos deixa embasbacados, ela cumpre muito bem seu papel de nos fazer de trouxa. Não é por acaso que E Não Sobrou Nenhum foi eleito o melhor romance policial de todos os tempos. E que Agatha Christie, de fato, fez por merecer a alcunha de Dama/Rainha do Crime.
Dito isso, o gênero da obra está mais que definido, trata-se de um romance policial, recheado de suspense e mistério. Quem gosta destes gêneros, certamente tem a obrigação de ler esse livro, tanto por ser da Agatha Christie, como pelo, reiteradamente citado, fato de que ele foi eleito o melhor romance de ficção policial, mistério e suspense de toda a história. A obra conta ainda com o título de mais vendida do mundo (do gênero), tendo chegado a marca de 100 milhões de cópias. Por outro lado, se você não é muito chegado a esses gêneros, ainda assim, recomendo a leitura. Me arrisco até a dizer que se você não gostava, esse livro vai te convencer do contrário. 
Acerca da própria Agatha Christie, ela foi uma escritora inglesa que viveu de 1890 a 1976. Pesquisei um pouco mais sobre ela e algumas informações não batem, mas trouxe as que mais tinham coerência. Cresceu ouvindo histórias de Conan Doyle e Poe, contadas por sua irmã mais velha, Madge. Mas a mãe que lhe incentivou a começar a escrever. Durante a Primeira Guerra Mundial, se alistou como voluntária da Cruz Vermelha, atuando como enfermeira. Ao final da Guerra, quando transferida para o dispensário, ao ser desafiada por sua irmã a escrever uma história em que o leitor não conseguisse descobrir o assassino até o final da narrativa, Agatha escreveu seu primeiro romance policial. Assim, nasceu seu famoso personagem, Hercule Poirot (estrelando 33 de suas obras), e seu primeiro livro do gênero, O Misterioso Caso de Styles. À partir disso, a autora iniciou sua exitosa carreira e foi consagrada com diversos recordes literários. Conta com um portfólio de mais de 80 livros e 17 peças teatrais publicadas. Suas obras foram traduzidas para 50 idiomas e publicadas em mais de 100 países. Segundo o Guinness Book, Christie é a escritora mais bem sucedida da história, pois todas as suas obras em conjunto chegaram a marca de alguns bilhões (alguns dizem que são 2 outros que são 4) de cópias vendidas, ultrapassada em vendas somente pela Bíblia e por Shakespeare. Por tudo isso, e muito mais, Agatha Christie tornou-se a maior escritora policial de todos os tempos.
Por fim, espero que tenham gostado e que, se já não tiverem lido, leiam essa obra, vocês irão apenas se surpreender positivamente com ela. Utilizando uma narrativa envolvente, fluida, intrigante e enigmática, Agatha nos transforma em um dos seus soldadinhos e nos faz ansiar por chegar ao fim desse mistério. Conseguindo manter a atmosfera de suspense até o final, ela nos entrega um desfecho surpreendente, chocante e magistral que, com certeza, vale a pena acompanhar. Não há como não se encantar com a genialidade dessa obra e mal posso esperar para ler as outras da Agatha. É isso minha gente. Como vocês já sabem, eu me empolgo demais escrevendo e a resenha acabou ficando enorme, de novo! A despeito disso, espero mesmo que tenham curtido e que não desistam de mim hahaha. Xero e até a próxima.

REFERÊNCIAS


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